Por dentro do CEP

31/10/2023

Todo mês, o CEP - Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina reúne-se para avaliar e aprovar e/ou deliberar sobre o que pode melhorar nos projetos de pesquisa que são encaminhados pelo Conep.

A equipe já está bem entrosada, então o ambiente leve e tranquilo, acaba sendo mais produtivo em reuniões que levam de uma a duas horas. Por isto, são escolhidos em dupla, os que vão levar um lanchinho para minorar a fome de muitos que as vezes, nem almoçaram ainda e vão para contribuir na agilidade dos processos. Na coordenação do CEP está o Dr. Amandio Rampinelli, intensivista e cirurgião cardiovascular do ICSC. E será com ele, que iremos conhecer um pouco mais do CEP e sua importância.

Cep - Há quantos anos o Senhor atua na área de Cirurgia Cardíaca?

Amandio - Me formei em Dezembro de 1982, pela Ufsc e fiz minha Residência em São Paulo no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de 1983 a 1986 e depois vim para cá – no Instituto de Cardiologia em 1987. Naquela época, o ICSC funcionava dentro do Hospital Celso Ramos.

CEP – O Senhor fez uma especialização no Japão?

Amandio – Sim. Naquela época o Governo Japonês tinha um convênio e eu ganhei uma bolsa e pude aprender um pouco mais os procedimentos na Cirurgia Cardiovascular. Foi de Agosto a Dezembro de 1994.

CEP – E há quanto tempo o Sr. está coordenando o CEP?

Amandio – Desde 1997, quando houve a orientação do Conep. Aqui foi um dos primeiros aprovados e credenciado. Mas hoje já há vários outros CEPs.

CEP – E neste período – quase 27 anos, houve algum que tenha lhe chamado a atenção ou deu uma grande contribuição?

Amandio – Sim, sim. Muitos medicamentos que estão em uso hoje, já passaram por aqui. Medicamento de uso contínuo. E muitas pessoas de baixa renda, que tinham dificuldade de adquirir os medicamentos pelo alto custo, nós acertamos com as empresas de oferecer o tratamento gratuito para aquelas pessoas que apoiaram usando os medicamentos, com o sentido de serem favorecidas.

CEP – Foram os CEPs e o CONEP atores atuantes na chegada dos genéricos, visando atender com maior intensidade as pessoas de baixa renda?

Amandio – Sim, não tão diretamente, mas contribuímos sim para este projeto. Direta ou indiretamente. E também para exigir que a fabricação atendesse todos os rígidos protocolos de fabricação. Além de que nossos CEPS e CONEP conseguiram a garantia de fornecimento gratuito para aqueles que participaram das pesquisas.

CEP- E qual é o próximo desafio seu no CEP?

Pensamos que a pesquisa seja incentivada para que os alunos a adotem desde o primeiro momento na Faculdade, se interessem pelos métodos, as questões éticas que a envolvem, para que ao enviar as suas pesquisas, a equipe que avalia só se atenha aos conteúdos e não na forma da metodologia usada, que por vezes, precisa ser devolvida e isto atrasa o processo. Então, primeiro aprender bem como enviar um projeto de pesquisa, porque assim, todo o processo flui para todos os atores e teremos mais resultados.

CEP – existe um trabalho dos CEPs de orientação nas universidades sobre isso, visando esta qualidade?

Amandio - Sim, mas as universidades já estão se antecipando e elas mesmo criam muita discussão visando preparar estes futuros pesquisadores, visando que eles tenham ciência de que muitas políticas públicas da área da saúde advém de estudos realizados na área, visando a prevenção, por questões de economia e qualidade de vida e/ou na curativa com recursos mais acessíveis a todos, mas com alta taxa de resolução. E quem encaminha os projetos para nós é o Conep, porque há universidades que tem seu próprio CEP. Recebemos somente de universidades que ainda não tem seu CEP.

CEP – E atualmente, O Sr. Percebe que é mais fácil fazer pesquisa do que no passado?

Amandio – Muito mais. A tecnologia ajuda muito. A digitalização de prontuários e a consequente avaliação rápida dos mesmos, vem acelerando os resultados. O aluno agora precisa ter a agilidade para entender tudo isto e realizar bons projetos de pesquisa. Sem contar que com esta tecnologia sendo plenamente implantada pelas unidades hospitalares, vem acelerando sobremaneira, todas estas pesquisas. E as pesquisas ajudam os hospitais a criarem protocolos padronizados de atendimento, o que agiliza e dá mais segurança no atendimento.

CEP - Falamos muito na entrevista sobre seu envolvimento com o CEP, mas gostaríamos de conhecer sobre o seu trabalho nas cirurgias. Conte um pouco sobre isto, sobre este PODER de dar vida a tantas pessoas que estavam incapacitadas?

Amandio - o principal procedimento cirúrgico seria fazer o procedimento mais fisiológico possível. Reestabelecer o fluxo, no nosso caso o sangue para levar os elementos vitais para as células. Estabelecer o ritmo dos batimentos cardíacos sincronizamos com a fisiologia corpórea. Quando realizamos um ato cirúrgico, o processo tem início antes do centro cirúrgico, conhecer o paciente e sua doença e qual o plano e/ou estratégia a ser adotada. É um rito que tem que ser seguido, saber da confiança do paciente de entregar o seu corpo para aliviarmos o seu sofrimento. Esta confiança depositada tem que ser respeitada ao extremo.

Ao vermos o resultado final é a melhora do quadro,a felicidade de ver esta melhora é  uma experiência fantástica. Após o desempenho pós operatório e no momento da alta hospitalar a alegria de podermos ter contribuído para um bem. Vermos depois este paciente no retorno pós-operatório ou mesmo em outro local o sentimento de dever cumprido. 

CEP - quantas cirurgias o Senhor ja realizou?

Amandio - O número total de cirurgias nestes quase 41 anos de formatura, são incalculáveis. Um caso interessante foi na madrugada de um natal em que  fui chamado para atender um ferimento por arma branca no tórax. Ao chegar o paciente parou na entrada do centro cirúrgico, rapidamente uma cirurgia de emergência. Saiu vivo, sem complicações e aquilo me marcou, porque o melhor presente que este jovem recebeu de natal foi a vida. E presente melhor que a vida não existe.